11 MITOS E VERDADES SOBRE TDAH

0
95

Atualmente, é cada vez mais comum descobrir que um amigo, familiar, conhecido ou pessoa famosa foi diagnosticado com TDAH. Entretanto, isso não significa que esta condição é bem compreendida por todos. Infelizmente, também é cada vez mais comum ouvir desinformação sobre o TDAH. Por isso, a seguir serão apresentados alguns dos mitos mais comuns sobre o transtorno.

MITO 1: “O TDAH não é uma condição real”

O TDAH é uma condição neurobiológica associada à desatenção, hiperatividade e/ou impulsividade em um nível incompatível com a idade de um indivíduo (DSM-5). Esta condição quando não tratada pode prejudicar seriamente a aprendizagem, a vida profissional, a vida familiar e os relacionamentos.

O TDAH está associado por exemplo a mudanças frequentes de emprego, término prematuro dos estudos, maior insatisfação com a vida social e profissional, aumento de acidentes graves de trânsito e maior chance de se divorciar. Muitas pessoas com TDAH acabam por desenvolver uma baixa autoestima por causa das dificuldades enfrentadas ao longo da vida.

MITO 2: “TDAH resulta de uma educação deficiente ou pais ruins”

O TDAH não é causado por falta de disciplina dos pais. Uma criança com TDAH que não consegue permanecer sentada por muito tempo apresenta este comportamento não porque não foi ensinada a ficar sentada, mas porque tem uma dificuldade em controlar seus impulsos. Na verdade, o TDAH é uma condição com um importante componente biológico e genético em suas origens. Alguns fatores ambientais como o ensino e o tipo de parentalidade, no entanto, podem minimizar ou intensificar as dificuldades vivenciadas por um indivíduo com TDAH (Faraone et. al., 2001).

MITO 3: “Uma criança que consegue jogar videogames por horas não pode ter TDAH”

A inconsistência é uma característica generalizada do TDAH. Em algumas situações, os indivíduos com TDAH podem se concentrar enquanto em outras, eles podem experimentar extrema dificuldade de concentração. Esse maior foco pode ocorrer em algumas atividades hiperestimulantes como videogames ou atividades criativas por exemplo (CADDRA, 2020).

MITO 4: “Todas as crianças com TDAH são hiperativas.” 

Uma pessoa com TDAH pode não demonstrar necessariamente hiperatividade. O manual diagnóstico DSM-5 estabele a existência do subtipo “predominantemente desatento” em que não é necessário que o indivíduo apresente hiperatividade.

MITO 5: “O TDAH ocorre apenas em meninos.”

Os meninos têm quatro a nove vezes mais chance de serem diagnosticados do que as meninas (Gershon et. al., 2002). No entanto, o transtorno pode acontecer tanto em meninos quanto em meninas. Além disso, alguns estudos mostram taxas parecidas entre os sexos na vida adulta(Owens et al., 2015). As meninas são mais propensas a apresentar o subtipo desatento (Gaub, 1997) e a apresentar taxas mais altas de ansiedade e depressão em comparação com meninos com TDAH (Biedermann et. al., 2002).

MITO 6: “Alergias alimentares, açúcar refinado, aditivos alimentares e má alimentação causam TDAH

Certamente, uma alimentação equilibrada e saudável favorecem o bom desenvolvimento físico e mental das crianças. Entretanto, não há comprovação definitiva que determinados tipos de dieta, por exemplo, ricas em açúcar refinado causem TDAH. (Nigg & Holton, 2014). Uma dieta e estilo de vida saudáveis são sempre importantes.

MITO 7: “Não existe adulto com TDAH”

Os estudos sobre o tema indicam altas taxas de persistência sintomática na vida adulta variando de 60% a 86%. Além disso, em relação a grupos neurotípicos, os adultos com TDAH diagnosticado na infância apresentam prejuízos importantes nas áreas de funcionamento educacional, funcionamento ocupacional, saúde mental e saúde física (Cherkasova et. al., 2022).

MITO 8: “Os medicamentos usados para tratar o TDAH levam as crianças a desenvolver dependência química no futuro.”

Quando usados ​​corretamente, os medicamentos que tratam TDAH não causam dependência ou abuso. Na verdade, os estudos sugerem que o tratamento adequado do TDAH diminui o risco de abuso de substâncias durante a adolescência (Mc Cabe et. al, 2016).

MITO 9: “A medicação cura o TDAH”

Embora não haja cura para o TDAH, a medicação consegue controlar de forma efetiva os sintomas de desatenção, impulsividade e hiperatividade. Uma abordagem “multi modal” incluindo intervenções comportamentais e adaptação pedagógica na escola são mais efetivas do que qualquer tratamento isoladamente (CADDRA, 2020).

MITO 10: “Existe um teste laboratorial que pode diagnosticar o TDAH”

O diagnóstico de TDAH é realizado por meio de uma avaliação abrangente que inclui: entrevista clínica (história médica, dados do desenvolvimento psicomotor, avaliação do desempenho acadêmico, social, avaliação do prejuízo funcional, presença ou ausência de condições psiquiátricas ou de saúde em geral coexistentes) e exame do estado mental. Não existe um exame laboratorial que diagnostique o TDAH (CADDRA, 2020).

MITO 11: “Para diagnosticar o TDAH é necessário fazer um eletroencefalograma (EEG) e constatar uma “disritmia na cabeça””

Algumas crianças com TDAH podem ter um aumento absoluto e relativo de ondas theta e diminuições relativas de ondas alpha e beta no EEG (Kropotov et al., 2014; Lansbergen et al., 2011). Entretanto, complementando a resposta ao mito anterior, é necessário dizer que o eletroencefalograma não dá o diagnóstico de TDAH nem é recomendado como ferramenta diagnóstica (CADDRA, 2020).

Referências

American Psychiatric Association. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora; 2014.

https://adhdclinic.co.uk/adhd-myths/ (Acessado em 05/02/2024)

Faraone SV, Doyle AE. The nature and heritability of attention-deficit/hyperactivity disorder. Child and adolescent psychiatric clinics of North America. 2001 Apr 1;10(2):299-316.

Harpin VA. The effect of ADHD on the life of an individual, their family, and community from preschool to adult life. Archives of disease in childhood. 2005 Feb 1;90(suppl 1):i2-7.

Biederman J, Petty CR, Woodworth KY, Lomedico A, Hyder LL, Faraone SV. Adult outcome of attention-deficit/hyperactivity disorder: a controlled 16-year follow-up study. The Journal of clinical psychiatry. 2012 Jul 15;73(7):577.

CADDRA–Canadian AD. Resource Alliance: Canadian ADHD Practice Guidelines 2020.

Gershon J, Gershon J. A meta-analytic review of gender differences in ADHD. Journal of attention disorders. 2002 Jan;5(3):143-54.

Owens EB, Cardoos SL, Hinshaw SP. Developmental progression and gender differences among individuals with ADHD. In R. A. Barkley (Ed.), Attention-Deficit Hyperactivity Disorder: A Handbook for Diagnosis and Treatment, (2015) 4th ed. (pp. 223–255). New York, NY: Guilford Press.

Gaub M, Carlson CL. Gender differences in ADHD: A meta-analysis and critical review. Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry. 1997 Aug 1;36(8):1036-45.

Biederman J, Mick E, Faraone SV, Braaten E, Doyle A, Spencer T, Wilens TE, Frazier E, Johnson MA. Influence of gender on attention deficit hyperactivity disorder in children referred to a psychiatric clinic. American Journal of psychiatry. 2002 Jan 1;159(1):36-42.

Wolraich ML, Wilson DB, White JW. The effect of sugar on behavior or cognition in children: a meta-analysis. Jama. 1995 Nov 22;274(20):1617-21.

Nigg JT, Holton K. Restriction and elimination diets in ADHD treatment. Child and Adolescent Psychiatric Clinics. 2014 Oct 1;23(4):937-53.

Cherkasova MV, Roy A, Molina BS, Scott G, Weiss G, Barkley RA, Biederman J, Uchida M, Hinshaw SP, Owens EB, Hechtman L. Adult outcome as seen through controlled prospective follow-up studies of children with attention-deficit/hyperactivity disorder followed into adulthood. Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry. 2022 Mar 1;61(3):378-91.

McCabe SE, Dickinson K, West BT, Wilens TE. Age of onset, duration, and type of medication therapy for attention-deficit/hyperactivity disorder and substance use during adolescence: a multi-cohort national study. Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry. 2016 Jun 1;55(6):479-86.

Escrito por Dra. Lorenna Sena, médica psiquiatra e doutora em psiquiatria pela UFRGS.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui