Transtorno do Déficit de Atenção de Hiperatividade – TDAH
Todo mundo pode em algum momento da vida sentir dificuldade de ficar parado, de prestar atenção ou de controlar algum comportamento impulsivo. No entanto, para algumas pessoas, as queixas de desatenção e hiperatividade são tão intensas e pervasivas que chegam a interferir em vários aspectos da vida como relacionamentos, ambiente acadêmico e profissional. Essas queixas podem fazer parte de um quadro chamado TDAH. A seguir será exposta uma visão geral deste transtorno.
O que é TDAH?
É um transtorno do neurodesenvolvimento, que em geral se inicia antes dos 7 anos de idade, mas pode persistir até a vida adulta. É caracterizado por 3 sintomas principais: desatenção, hiperatividade e impulsividade em níveis que são incompatíveis com a idade e/ou estágio do desenvolvimento da pessoa, que ocorrem em mais de um ambiente (social, acadêmico, familiar) e trazem prejuízo funcional importante à pessoa.
Os sintomas do TDAH incluem:
- Desatenção – incapacidade de manter o foco por um longo período ou terminar tarefas, desorganização e esquecimento.
- Hiperatividade – inquietação, incapacidade de ficar parado.
- Impulsividade – falar e fazer coisas sem pensar nas consequências, interromper outras pessoas, incapacidade de esperar sua vez.
Para receber o diagnóstico, as crianças devem apresentar seis ou mais sintomas do distúrbio presente; adolescentes de 17 anos ou mais e adultos devem ter pelo menos cinco dos sintomas presentes. O DSM-5 lista três apresentações de TDAH – predominantemente desatento, predominantemente hiperativo e o subtipo combinado. Os sintomas de cada estão resumidos abaixo.
Apresentação predominantemente desatenta
- Não presta muita atenção aos detalhes ou comete erros por descuido
- Tem dificuldade em manter a atenção
- Parece não ouvir
- Reluta em seguir as instruções
- Tem dificuldade com organização
- Evita ou não gosta de tarefas que exijam esforço mental por um longo período
- Perde coisas
- Distrai-se facilmente
- É esquecido nas atividades diárias
Apresentação predominantemente hiperativa
- Mexe com as mãos ou pés ou se contorce na cadeira
- Tem dificuldade em permanecer sentado
- Corre ou sobe excessivamente em móveis quando criança ou apresenta sensação interna intensa de inquietude quando adolescente ou adulto
- Dificuldade em participar de atividades de lazer silenciosamente
- Age como se fosse acionado por um motor; os adultos muitas vezes referem sensação de estar “ligado na tomada”
- Fala excessivamente
- Responde às perguntas de forma abrupta antes mesmo delas terem sido completadas
- Dificuldade em esperar ou revezar a vez com outra pessoa
- Interrompe ou se intromete na conversa de outras pessoas
Apresentação combinada
O indivíduo atende aos critérios para ambos as apresentações: TDAH desatento e TDAH hiperativo-impulsivo.
É uma doença nova?
Não. Tradicionalmente, atribui-se ao ao pediatra George F Still em 1902, a primeira descrição médica de um conjunto de sintomas semelhantes ao que atualmente é diagnosticado como TDAH. Entretanto, ainda no século 18 e 19 há descrições médicas de quadros de desatenção sob os nomes de: “Attentio Volubilis”, “doença da atenção” entre outros (Martínez-Badia & Martínez-Raga).
Quem é acometido pelo TDAH?
Pesquisas populacionais sugerem que o TDAH ocorre na maioria das culturas em cerca de 5% das crianças e cerca de 2,5% dos adultos (DSM-5). O TDAH é mais frequente em homens do que em mulheres na população em geral, com uma proporção de aproximadamente 2:1 em crianças e 1,6:1 em adultos (DSM-5).
Como o diagnóstico é feito?
O diagnóstico de TDAH é realizado por meio de uma avaliação abrangente que inclui: entrevista clínica (história médica, dados do desenvolvimento psicomotor, avaliação do desempenho acadêmico, social, avaliação do prejuízo funcional, presença ou ausência de condições psiquiátricas ou de saúde em geral coexistentes) e exame do estado mental.
Um psiquiatra, neurologista ou psicólogo podem fazer a avaliação diagnóstica para TDAH. Independentemente de quem faz a avaliação, o uso dos critérios diagnósticos do DSM-5 para TDAH é necessário.
A testagem neuropsicológica pode sugerir a presença de TDAH, porém não é o suficiente para o dignóstico.
Determinar se uma pessoa tem TDAH é uma tarefa complexa, porque existem outras condições psiquiátricas que podem se manifestar com sintomas semelhantes àqueles característicos do TDAH. Por exemplo, ansiedade, depressão e certos tipos de dificuldades de aprendizagem podem causar desatenção e problemas comportamentais. Em alguns casos, essas outras condições podem ser os únicos responsáveis pelas queixas do paciente. Em outros casos, essas condições podem coexistir com o TDAH.
Como é o tratamento?
O tratamento de TDAH em crianças costuma compreender:
- Psicoeducação de pais e da criança sobre o diagnóstico e tratamento
- Psicoterapia para a criança e Treinamento de pais em técnicas de manejo comportamental
- Medicamento
- Adaptações pedagógicas na escola
A Academia Americana de Pediatria (Wolraich el al, 2019) recomenda treinamento parental (terapia comportamental com enfoque nos pais) e manejo comportamental para crianças com TDAH com menos de 6 anos de idade como primeira linha de tratamento, antes de tentar um medicamento. Para crianças com 6 anos de idade ou mais, as recomendações incluem medicação e terapia comportamental combinados.
Para adultos, a combinação entre psicoterapia e medicamentos também traz resultados positivos. Uma revisão (Lopez et al., 2018) sobre o tratamento do TDAH em adultos demonstrou que a terapia cognitivo-comportamental combinada com uso de medicamentos traz melhora no funcionamento global e reduz sintomas secundários de depressão e de ansiedade.
Quais são os medicamentos utilizados?
Os medicamentos com menção na bula para o tratamento de TDAH no Brasil são:
- Metilfenidato (Ritalina, Attenze, Concerta)
- Lixdesamfetamina (Venvanse)
- Atomoxetina (Atentah)
Os psicoestimulantes (metilfenidato e lixdesamfetamina) são os medicamentos mais usados para o manejo do TDAH e sintomas relacionados. Aproximadamente 70-80% das crianças com TDAH respondem positivamente aos psicoestimulantes (MTA; 1999.)
O tratamento com psicoestimulantes é uma parte fundamental do tratamento. Há melhora significativa no desempenho escolar dos alunos que fazem uso desses medicamentos: aumenta a concentração nas aulas e aumenta a quantidade e a acurácia das tarefas resolvidas, bem como diminui a hiperatividade e os comportamentos impulsivos nas interações sociais (Spencer, 1995; Swanson 1993.)
Referências
https://www.enherts-tr.nhs.uk/services/adhd-add/frequently-asked-questions/ (Acessado em 29/01/24)
American Psychiatric Association. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora; 2014.
Still GF. Some abnormal physical conditions in children. Lancet. 1902;1008:1163-8.
https://chadd.org/ (Acessado em 29/01/24)
Martinez-Badía J, Martinez-Raga J. Who says this is a modern disorder? The early history of attention deficit hyperactivity disorder. World journal of psychiatry. 2015 Dec 12;5(4):379.
Wolraich ML, Hagan Jr JF, Allan C, Chan E, Davison D, Earls M, Evans SW, Flinn SK, Froehlich T, Frost J, Holbrook JR. Subcommittee on Children and Adolescents with Attention-Deficit/Hyperactive Disorder. Clinical practice guideline for the diagnosis, evaluation, and treatment of attention-deficit/hyperactivity disorder in children and adolescents. Pediatrics. 2019 Oct;144(4):e20192528.
Lopez PL, Torrente FM, Ciapponi A, Lischinsky AG, Cetkovich‐Bakmas M, Rojas JI, Romano M, Manes FF. Cognitive‐behavioural interventions for attention deficit hyperactivity disorder (ADHD) in adults. Cochrane Database of Systematic Reviews. 2018(3).
MTA Cooperative Group. A 14-month randomized clinical trial of treatment strategies for attention-deficit/hyperactivity disorder. Archives of general psychiatry. 1999 Dec 1;56(12):1073-86.
Spencer T, Biederman J, Wilens T, Harding M, O’DONNELL DE, Griffin S. Pharmacotherapy of attention-deficit hyperactivity disorder across the life cycle. Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry. 1996 Apr 1;35(4):409-32.
Swanson JM, McBurnett K, Wigal T, Pfiffner LJ, Lerner MA, Williams L, Christian DL, Tamm L, Willcutt E, Crowley K, Clevenger W. Effect of stimulant medication on children with attention deficit disorder: a “review of reviews”. Exceptional children. 1993 Oct;60(2):154-62.