Sentir-se triste ou deprimido são reações normais a alguns acontecimentos da vida. No entanto, um episódio depressivo é marcadamente diferente dos sentimentos comuns de tristeza ou da sensação de “baixo astral”. A depressão clínica ou episódio depressivo maior é caracterizado por alterações de comportamento, sentimentos, pensamentos e até sintomas físicos por um período prolongado de tempo (2 semanas ou mais).
Os sintomas da depressão podem variar de intensidade, mas em geral, incluem:
- Sentir-se muito triste e/ou sem esperança. Sentir irritação em vez de tristeza pode acontecer em crianças e adolescentes com depressão;
- Não sentir mais prazer nas coisas que costumavam trazer alegria anteriormente;
- Ficar facilmente irritado ou frustrado;
- Ter redução ou aumento do apetite, o que pode resultar em ganho ou perda de peso;
- Ter insônia ou hipersonia (dormir demais);
- Ter baixa energia ou fadiga;
- Ter queixas físicas como cefaléia, dor de estômago ou disfunção sexual;
- Ter dificuldade em concentrar-se, tomar decisões ou lembrar-se de coisas;
- Ter pensamentos de automutilação ou suicídio.
A depressão também pode envolver outras mudanças de humor ou comportamento que incluem:
- Aumento da raiva ou irritabilidade;
- Culpa excessiva e sensação de estar sendo punido;
- Inquietude ou nervosismo;
- Sensação de retraimento ou apatia;
- Maior envolvimento em atividades de alto risco;
- Maior impulsividade;
- Aumento do uso de álcool ou drogas;
- Isolamento social;
- Incapacidade de cumprir as responsabilidades no trabalho e no ambiente familiar;
- Redução do interesse sexual.
Quem pode sofrer de depressão?
Qualquer pessoa pode vir a sofrer de um episódio depressivo, incluindo crianças e adolescentes. As mulheres têm maior probabilidade de ter depressão do que os homens. O pico de idade de início para depressão vem caindo nos últimos anos com um estudo de 2022 mostrando média de idade de início de 20.5 anos ao redor do mundo.
Ter certos fatores de risco aumenta a probabilidade de você desenvolver depressão. Por exemplo, as seguintes condições estão associadas a taxas mais elevadas de depressão:
- Doenças neurodegenerativas como a doença de Alzheimer e a doença de Parkinson.
- Acidente Vascular Encefálico prévio
- Distúrbios convulsivos
- Câncer
- Dor crônica
- Grandes mudanças de vida (luto, perda de emprego, término de relacionamentos)
- História familiar de depressão
- Uso de drogas
A depressão é comum?
Sim, a depressão é muito comum. Dados da OMS sobre este transtorno indicam que 5,8% da população brasileira sofre de depressão, o equivalente a 11,7 milhões de brasileiros. Ao redor do mundo, a prevalência estimada é de 288 milhões de pessoas.
O que causa a depressão?
Não existe uma causa única para a depressão. Portanto, não é sua culpa se sentir deprimido. Apesar de popularmente ser dito que a depressão resulta de um desequilíbrio químico no cérebro, essa figura de linguagem é uma supersimplificação.
Na verdade, existem muitos fatores de risco que interagem de forma complexa para gerar a depressão, que incluem por exemplo, desregulação emocional, vulnerabilidade genética e eventos estressantes na vida.
Como a depressão é diagnosticada?
Médicos psiquiatras ou psicólogos clínicos diagnosticam a depressão com base em uma avaliação completa de seus sintomas, história médica e exame do estado mental. Para receber este diagnóstico, os sintomas depressivos precisam estar presentes todos os dias, quase o dia todo, durante pelo menos duas semanas.
Não há um exame de imagem ou exame laboratorial que diagnostique a depressão.
Em alguns casos, o médico pode solicitar exames complementares para verificar se alguma condição médica subjacente está constrinuindo para os sintomas depressivos.
Como a depressão é tratada?
O tratamento da depressão usualmente compreende: medicação, psicoterapia ou ambos. Nos casos de depressão leve, o tratamento pode começar apenas com psicoterapia e apenas no caso de persistência dos sintomas, é adicionado medicamento específico. Nos casos de depressão moderada ou grave, recomenda-se uma combinação de medicação e terapia no início do tratamento.
A escolha do plano de tratamento correto deve basear-se nas necessidades individuais da pessoa, suas preferências e em seu quadro médico. Não existe um antidepressivo ou terapia que funciona para todas as pessoas. Por isso, pode ser necessário alguma tentativa e erro para encontrar o tratamento que funciona melhor para você.
Se você estiver com sintomas de depressão, consulte um médico ou psicólogo. Eles podem fazer uma avaliação diagnóstica e sugerir opções de tratamento. Se você iniciou o tratamento para a depressão e ele não está funcionando ou está tendo efeitos colaterais desagradáveis, converse com seu médico. Se você estiver tendo pensamentos sobre morte ou suicídio, ligue para CVV (Centro de Valorização da Vida – telefone: 188) e/ou procure um pronto atendimento psiquiátrico. O texto acima não substitui uma avaliação médica.
Escrito por Dra. Lorenna Sena, médica psiquiatra e doutora em psiquiatria pela UFRGS.
Referências
Institute of Health Metrics and Evaluation. Global Health Data Exchange (GHDx). https://vizhub.healthdata.org/gbd-results/ (Acessado: 23/01/24)
https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/depression (Acessado: 23/01/24)
Solmi, M., Radua, J., Olivola, M. et al. Age at onset of mental disorders worldwide: large-scale meta-analysis of 192 epidemiological studies. Mol Psychiatry 27, 281–295 (2022). https://doi.org/10.1038/s41380-021-01161-7
https://www.nimh.nih.gov/health/topics/depression (Acessado: 23/01/24)
https://www.health.harvard.edu/mind-and-mood/what-causes-depression (Acessado: 23/01/24)
https://my.clevelandclinic.org/health/diseases/9290-depression (Acessado: 23/01/24)